quarta-feira, 2 de junho de 2010

A história de Kobe Bryant e Derek Fisher

Muito depois que os demais jogadores dos Lakers deixaram o vestiário, Kobe Bryant e Derek Fisher ainda estavam na área de preparação física; os repórteres os viam através de uma parede de vidro, mas os dois não pareciam dispostos a explicar uma severa derrota de playoff aos jornalistas antes de discutirem a situação entre eles.

A reunião pós-jogo estava só começando, disse Fisher.

"Se você atravessou o fogo na companhia de alguém, existe confiança, antes e depois da partida, no ônibus, em trocas de mensagens", ele terminou por dizer depois da derrota do Los Angeles Lakers diante do Phoenix Suns no jogo quatro da decisão da conferência oeste da NBA. "Estamos sempre pensando naquilo de que este time precisa para conquistar um título".

Em uma liga obcecada com astros em final de contrato que precisam considerar se conseguirão coexistir com outros egos avantajados em um mesmo time, é raro haver parcerias esportivas como a que une Bryant e Fisher - um superastro talentoso e ocasionalmente controverso e seu amigo especial em quadra, a quem Bryant chama carinhosamente de Fish.

Depois de marcarem, somados, 52 pontos e 13 assistência na vitória dos Lakers no jogo cinco, na última quinta-feira, Bryant e Fisher garantiram ao time no sábado a chance de disputar o que pode se tornar o quinto título para ambos.

Em sua 11ª temporada juntos - uma série interrompida pelos três anos que Fisher passou fora de Los Angeles -, o armador Fisher se tornou uma autoridade no time, e é o único colega que conta com a confiança completa de Bryant e tem o direito a falar alto quando necessário.

"Nós já encaramos diversos aspectos da vida juntos", disse Bryant. "Ele sempre foi um cara firme, um amigo que é quase um irmão".

Fisher completará 36 anos em setembro, e portanto é um irmão mais velho - quatro anos e 14 dias mais velho- -, mas também começou nos Lakers em 1996, o ano em que Bryant chegou à NBA, vindo diretamente do segundo grau.

"Começou em um torneio de verão em Long Beach", disse Bryant. "Jogávamos juntos no verão, trabalhando por longas horas, e durante a temporada, porque não entrávamos em muitas partidas, tínhamos de chegar mais cedo para os treinos e jogávamos um contra um".

Fisher, um armador corpulento e de 1,85 metro de altura, formado pela Universidade do Arkansas, sempre enfrentou Bryant de igual para igual. Os dois se atracavam na quadra, resmungavam juntos fora dela sobre a falta de oportunidades e por fim se transformaram em uma dupla firme na armação dos Lakers.

"Kobe confia mais nele do que em qualquer outro colega, é visível", disse Steve Kerr, presidente de operações de basquete dos Suns, que compreende as complexidades e riscos do relacionamento entre os dois armadores de um time, e como é difícil conviver com uma personalidade imperiosa em quadra.

Nos anos 90, em Chicago, Kerr substituiu John Paxson no papel de armador arremessador. Nos oito anos em que tinham jogado juntos, Michael Jordan desenvolveu apreço tão grande por Paxson que fez um apelo pessoal à direção do Chicago Bulls em 1991 para que o mantivesse no time. Logo depois, Paxson retribuiu o gesto e confirmou que merecia essa confiança ao marcar a cesta de três pontos que deu aos Bulls a vitória contra os Suns e o primeiro título de seu primeiro tricampeonato. "O perfeito profissional", foi como Jordan definiu o companheiro naquela noite.

Quando Kerr foi contratado pelo Bulls, em 1993, Jordan havia deixado o time temporariamente para jogar beisebol; voltou em 1995, antes dos playoffs, mas os Bulls perderam na segunda rodada. Jordan, de acordo com Kerr, "voltou frenético" na pré-temporada seguinte, criticando os colegas e dando cotoveladas nos demais jogadores durante os treinos.

Kerr se ofendeu em um momento como esse, rebateu os insultos e acabou levando um soco no rosto. ¿Provavelmente não era a coisa mais inteligente a fazer", disse. "Mas acho que, por fim, ele me respeitou mais porque não cedi a ele".

E Kerr não está falando da boca para fora. Na final de 1997, contra o Utah Jazz, o placar estava empatado no jogo seis; em passe de Jordan, Kerr marcou a cesta da vitória e do título; depois do jogo, Jordan disse que o colega havia "conquistado seu brevê".

Mas se Kerr, como Paxson, conquistou a completa confiança de Jordan, nenhum dos dois desenvolveu com o astro um relacionamento semelhante ao que existe entre Bryant e Fisher, diz Phil Jackson, que treinou todos eles.

"Havia algumas semelhanças entre Michael e Pax, mas com Fish e Kobe a profundidade é maior, como o sentimento, por causa de tudo que eles viveram", diz Jackson.

Para começar, Jordan jamais teve de dividir a condição de astro da equipe, ou aceitar uma posição coadjuvante, como aconteceu com Bryant nos três títulos que venceu para os Lakers em companhia de Shaquille O'Neal. Bryant não aceitava muito bem a situação, e disse a Jackson bem cedo na carreira que achava estar pronto para ser o capitão do time. "Mas o resto do pessoal não está pronto para ser comandado por você", o técnico respondeu.

A maioria dos colegas, de fato, considerava Bryant arrogante. Para Fisher, ele era apenas jovem e mal compreendido.

Depois de rir quando perguntei se Bryant inicialmente o via como mentor, Fisher explicou: "Kobe sempre sentiu que todo mundo estava atrapalhando; ele tinha metas, e queria que as pessoas escolhessem entre segui-lo ou não. Desde o começo ele sabia o que queria em sua carreira e como chegar lá, e como se esforçaria para tanto. Foi algo que percebi cedo, e por isso gosto tanto dele".

Ele acrescentou: "Por outro lado, à medida que amadurecemos, creio que ele aprendeu a respeitar meu esforço para continuar jogando em alto nível".

Apesar do talento, faltavam a Bryant a perspectiva e compaixão de Fisher, que tinha a capacidade de comunicação necessária a superar as disputas entre Bryant e O'Neal. Em 2003, quando Bryant foi acusado de agressão sexual no Colorado, Fisher sempre o defendeu.

Mesmo assim, trocou os Lakers pelo Golden State Warriors, um ano depois, porque o time estava caótico, Jackson decidiu se afastar e Bryant mesmo não decidira se permaneceria.

"Mas nós continuamos conversando depois que ele saiu", disse Bryant. "Sempre ao telefone, especialmente na época do problema de sua filha; na verdade, logo antes daquele jogo em Utah".

Em 2007, Tatum, a filha de Fisher, então com 11 meses de idade, teve diagnosticado um raro câncer ocular. Depois de uma cirurgia de emergência em Nova York, Fisher voou para Utah em tempo de participar de um jogo de playoff do Utah Jazz que já tinha começado.

Ele fez a cesta da vitória na prorrogação, e Bryant, que assistia à partida em Los Angeles, sentiu que "precisávamos dele de volta".

Os arremessos de Fisher estavam fazendo falta aos Lakers, e Bryant queria no time o seu melhor amigo e um jogador que sempre o compreendeu. Ele pressionou pela contratação de Fisher quando Utah o liberou para procurar tratamento para sua filha em uma cidade maior.

A volta de Fisher aos Lakers, em 2007, coincidiu com a recuperação na reputação de Bryant.

E, no último ano, os dois voltaram a conquistar um título, o mais desejado de Bryant - seu primeiro sem O'Neal. Um ponto alto da trajetória foram os momentos de brilho de Fisher, como duas cestas de três pontos -uma a 4,6 segundos do final do jogo contra o Orlando Magic, levando o Lakers à prorrogação, e a segunda dando a vitória ao time, que ficou em vantagem nas finais por três vitórias a um.

Os passes para as suas cestas vieram de Bryant - momentos dramáticos mas sem exageros hollywoodianos. O contrato de Fisher se encerra ao final da temporada, mas Bryant quer que ele fique e acredita que os dois continuarão em quadra juntos por muito tempo.

"Temos muitas histórias, cara", diz. "Coisas que vamos querer contar na aposentadoria, e que nos unirão para sempre".

Fonte: http://esportes.terra.com.br

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